As manhãs por aqui são um pouco dolorosas. Não é pelo frio ou pela preguiça. É mesmo pela falta de vários corpos ondulantes que costumavam preencher todo o meu dia. É uma gargalhada específica e um toque característico de apenas uma pessoa, que fazia com que os meus dias fizessem sentido. Eles não deixaram de fazer, simplesmente eu agora vivo cada dia como se fosse o último. Tento não me importar com aquilo que amo verdadeiramente e sonho só com o que sei que poderá mesmo acontecer. Eu já não quero voltar atrás no tempo e mudar o que estragou a nossa relação. Apagar todos os erros e todas as feridas. Eu quero apenas ouvir a tua voz calma a proferir o meu nome naquelas noites em que não consigo dormir. Quero apenas uma chamada tua a uma hora qualquer do dia pois, por incrível que pareça, só isso me fazia feliz. Apesar destas grandes cidades que nos separam. Apesar destes milhões de pessoas que se tornam um obstáculo no nosso caminho. Mas se a culpa é da distância? Não, a culpa é tua por teres feito de mim aquilo que fizeste. Aprende uma coisa, miúda: não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti. É uma das minhas noções da vida. Claro, eu consigo ser muito melhor que tu, em algumas coisas. Apesar de tu continuares com o teu lindo sorriso, com a tua pose perfeita, com as tuas conversas parvas e com as tuas amigas ignorantes. E, claro, continuas a predominar nos meus pensamentos, até eu perceber que isso é uma autêntica estupidez. Mas não és tu que o és, é o teu coração. As tuas atitudes - que me magoaram - e o teu falso sarcasmo. Eu não te entendia do teu lado, quanto mais a 1500 quilómetros de distância.